Desde que se mudara em 2009 para a sua casa nova em Sintra, a Tia JU nunca mais deixou aquele espaço. É uma casa fantástica, com excelentes áreas, amplos espaços, muita iluminação natural e acima de tudo em que está rodeada de amigos.
A Tia JU já não vai para nova, mas continua uma “senhora” muito respeitável. Hoje fomos passear com a Tia até Lisboa, aproveitando o facto de já estar disponível no MSFS2020 assim como fomos estrear esta pintura especial e que é a mesma que podemos encontrar no Museu do Ar em Sintra.
Chegou ao nosso país em dezembro de 1939, depois de ter saído da Alemanha na companhia de mais 9 “irmãs”. Eram tempos agitados e que as abrigou a chegaram à Granja do Marques pelo sul da Europa, com uma rota de voo ferry por Roma, Melilla e Larache, a fim de evitar o território francês. Quando tocou o solo nacional a Tia JU foi recebida, assim como as restantes irmãs, numa cerimónia oficial com as mais altas patentes da época.
A Tia JU, nasceu pela mão Junkers-Flugzeugwerk A.-G., em Dessau e possui três motores radiais e uma capacidade para 17 passageiros. Na Alemanha era conhecida pela Taunt Ju, mas os soldados americanos que lá andaram apelidaram-na de Iron Annie. É um dos modelos mais bem-sucedidos na história da aviação europeia com mais de 4.000 unidades produzidas, tanto para uso civil e como militar.
Fabricada com motores BMW, alguns modelos para exportação também utilizavam motores Pratt & Whitney Wasp ou Bristol Pegasus. No seu nome o “3m” significa drei motoren, ou três motores. Na década de 40 realizava uma viagem Berlim–Roma, atravessando os Alpes, em apenas 8 horas, o que era um tempo excelente para a época. Como não possuía uma cabine pressurizada era equipada com máscaras de oxigênio para voos de grande altitude.
Com 18,90m de comprimento, uma envergadura de 29,25m e uma altura de 6,10m, a Tia JU tinha uma velocidade máxima de 146 nós e de cruzeiro de 120 nós sendo capaz de um alcance de cerca de 600 milhas.
Em Portugal a Tia JU integrou a Escola Aeronáutica Militar e mais tarde o Grupo Independente de Aviação de Bombardeamento (GIAB), sendo a sua primeira missão no GIAB no dia 6 de Agosto de 1937 com o Capitão Humberto da Cruze. Já na 1ª parte da década de 40 voou pelos Açores com outras “irmãs”.
A atividade operacional da 6304 atinge o seu auge na transição da década de 50 para a de 60 tendo essa atividade regular terminado em Abril de 1961 onde estava ao serviço do ensino de navegadores e radiotelegrafistas.
Na fase final da sua vida operacional, entre 1963 e 1967, embora atribuído à Base Aérea 1 (BA1), a 6304 esteve ao serviço na BA2 em missões de transporte e treino de pilotos e navegadores, tendo a sua atividade aérea relativamente reduzida neste período final de operação. A título de exemplo, em 1964, voou cerca de 45 horas, estando inativa durante seis meses.
A pintura da aeronave ostentou os dois esquemas característicos dos Ju-52 portugueses: o camuflado inicial segundo o esquema tradicional alemão, em verde, castanho e cinzento, separados por linhas retas quebradas com a superfície inferior a preto e o esquema de pintura da Força Aérea Portuguesa para aviões de transporte, em alumínio com o dorso em branco, utilizado no início da década de 60.
Em 1968 a Tia JU mudou de casa: foi para Coimbra. Durante 19 anos em que a Tia permaneceu no “Portugal dos Pequenitos”, foi um dos motivos de visita ao parque. Muitas horas de brincadeira e pura alegria aconteceram em seu redor, onde inúmeras crianças (certamente muitos de nós) deram largas à sua fantasia com um avião enorme e imponente.
A Tia Ju adorava as crianças, mas à medida que o tempo passava o seu estado de saúde degradava-se e em 1987, o Museu do Ar consciente do enorme valor patrimonial que o Ju-52/3mge representava, sendo um dos “originais” alemães, deu a ordem para o recolher, com destino ao parque de aeronaves do Depósito Geral de Material da Força Aérea (DGMFA) em Alverca.
No seu lugar seria colocado um Fiat G.91 R/3 que, por sinal, nunca teve no nosso país serviço operacional.
Em Julho de 1993, uma delegação da Bodø Aviation Historical Society (BAHS) iniciou uma série de contactos com o Museu do Ar, em Alverca, com o intuito de adquirir para o seu museu, um Junkers Ju-52 do lote anteriormente fornecido pela Noruega a Portugal e que pudesse ser equipado com flutuadores. Foi então proposto que em troca do envio do Ju-52 nº 6306, aquela entidade tomasse a seu cargo a completa restauração para exposição estática no Museu do Ar do nº 6304. E assim foi! A Tia JU foi para a Noruega a fim de ser requalificada tendo regressado em a Portugal em julho de 2000. O seu destino foi a base aérea em Alverca, onde ficaria guardada na Armazém 1, até que o local mais conveniente para a sua exposição estivesse finalmente pronto. Isso aconteceu em 2009 quando o Museu do Ar se muda para a Granja do Marquês, Sintra.
O novo Museu do Ar era agora um espaço mais moderno, atrativo e até adequado para a exposição pública de tão valiosa e cobiçada peça museológica, ocupando agora um lugar de destaque.
A Tia JU no MSFS2020
O Junkers JU-52 chega ao MSFS2020 como a primeira de muitas aeronaves históricas e que visam a criação de um arquivo digital e pormenorizado de forma a manter o legado histórico da aviação. Jörg Neumann da Microsoft disse “digitalizamos o avião ao milímetro e depois falamos com as pessoas que realmente sabem os pormenores”. Neumann também transmitiu recentemente que entrevistaram antigos pilotos assim como tinham falado com o neto de Hugo Junkers que foi o responsável pelo design e construção da aeronave. Neste momento a equipa responsável por este JU-52 está a trabalhar com mais de 40 museu em todo o mundo em projetos similares pelo que muito em breve haverá mais legenda da aviação no MSFS2020.
Do ponto de vista do modelo 3D, o JU-52 está muito bem detalhado e texturado tendo o resultado final sido excelente. O cockpit está quase todo funcional, dadas as atuais limitações do SDK, incluindo as opções de abertura das janelas laterais e superior. Com estas aberturas, para além de ajudar na ventilação do espaço poderemos apreciar a variação do som dos 3 motores radiais. A cabine de passageiros também não foi esquecida e também ela está como elevados padrões de modelação 3D e texturas.
Todos os motores também foram muito bem pormenorizados e vale bem a pena serem observados com atenção.
No MSFS2020 o JU-52 vem com 3 variantes: o modelo original cujos motores possuem a hélice bipá, o modelo com uma versão retrofit e um pouco melhorada e mais moderna assim como a versão com flutuadores. De referir que com a versão original todo o cockpit se encontra em alemão, aumentando desta forma a imersão do modelo original. Quanto ao som dos motores, também ele teve uma particular atenção e cuidado estando muito autêntico e real.
Pintura
A Tia JU já trás algumas pinturas interessantes, mas a que surge nas imagens é a mesma que se pode encontrar no JU-52 português que está no Museu do Ar em Sintra, tendo sido recriada por IFR e que poderá ser encontrada e descarregada do site www.flightsim.to para o pc. De referir que IFR já produziu algumas das melhores pinturas que se encontrar para o JU-52 do MSFS2020, pelo valerá a pena acompanhar o seu trabalho.
Fomos com a Tia JU a Lisboa
Com o pretexto de levar a Tia JU a passear, descolamos da Granja do Marquês e fomos até à capital numa bela tarde soalheira. Não esperem grande velocidade da Tia, pois ela possui uma velocidade de cruzeiro de apenas 120 nós, o que é ótimo para apreciar o cenário de Lisboa disponível em www.flightsim.to. Neste cenário poderemos ver a toda a cidade com um elevado detalhe, assim como os principais edifícios e locais mais emblemáticos da capital.
Aos comandos, o voo corre sem problemas pois a Tia é muito dócil e previsível. No cockpit não esperam grandes modernices, afinal de contas é “uma senhora” já com alguma idade, mas lembrem-se de atualizar o vosso alemão só para o caso… Depois de uns pasteis de Belém, regressamos calmamente à cas da Tia, em Sintra, ansiando já pelo próximo voo.
Todos nós temos uma Tia preferida e esta é uma das minhas!
“Todos nós temos uma Tia preferida e esta é uma das minhas! “ – Rui Silva